Prefeitura de Campo Largo investe em propaganda em ônibus enquanto transporte público enfrenta críticas e Câmara falha na fiscalização
Campanha institucional com o slogan “Selo Diamante em Transparência” circula em um sistema de transporte caro, sem integração com Curitiba e alvo de insatisfação popular, evidenciando prioridades questionáveis do Executivo e omissão do Legislativo
A veiculação de propaganda institucional da Prefeitura de Campo Largo nos ônibus do transporte coletivo da cidade tem gerado indignação e críticas por parte da população. A campanha, custeada com dinheiro público, divulga o slogan “Selo Diamante em Transparência”, exaltando um reconhecimento que, para muitos cidadãos, representa apenas o cumprimento de uma obrigação legal e não um feito extraordinário que justifique gastos com publicidade.
O que amplia ainda mais a insatisfação é o fato de a propaganda estar sendo exibida justamente em um serviço público que é, há anos, alvo de críticas constantes: o transporte coletivo municipal. Moradores reclamam do alto valor da tarifa, considerado um dos mais caros da Região Metropolitana, além da ausência de integração tarifária com Curitiba, o que penaliza diariamente trabalhadores e estudantes que dependem do deslocamento entre os municípios.
Para usuários do sistema, a situação soa contraditória. Enquanto a Prefeitura investe recursos para promover sua imagem nos ônibus, os próprios veículos simbolizam um serviço que não atende plenamente às necessidades da população. “É propaganda em cima de um problema”, resume o sentimento de muitos campo-larguenses.
Embora a publicidade seja de responsabilidade direta do Executivo municipal, o episódio escancara uma falha grave da Câmara de Vereadores, que tem o dever constitucional de fiscalizar os gastos públicos. Cabe ao Legislativo questionar prioridades, valores investidos em publicidade institucional e a real necessidade desse tipo de despesa em um cenário de reclamações na saúde, no transporte e em outros serviços essenciais.
A crítica se intensifica diante da postura adotada por parte dos vereadores, que em diferentes momentos já se declararam “parceiros” do Executivo. A afirmação levanta um questionamento central: como um Poder fiscalizador pode assumir publicamente uma posição de alinhamento político com quem deveria ser fiscalizado de forma rigorosa e independente?
Sem uma atuação firme da Câmara, o Executivo passa a governar praticamente sem contraponto, o que, segundo críticos, abre espaço para gastos considerados desnecessários ou pouco prioritários. O slogan “Diamante em Transparência”, nesse contexto, contrasta com a percepção popular de que falta transparência prática quando o assunto é fiscalização e cobrança efetiva.
Outro ponto que gera descontentamento é o comportamento recorrente de vereadores que se limitam a divulgar fotos em obras públicas, muitas vezes atribuindo a si próprios solicitações ou indicações de melhorias que já constavam no cronograma oficial da Prefeitura. Obras planejadas pelo Executivo acabam sendo apresentadas como conquistas individuais, enquanto a função fiscalizadora fica em segundo plano.
Atualmente, dos 15 vereadores de Campo Largo, pelo menos 14 integram a base de apoio do prefeito. O dado chama atenção especialmente porque muitos desses parlamentares foram eleitos com discurso de oposição, mas após a eleição mudaram de posicionamento, frustrando eleitores que esperavam independência e fiscalização efetiva.
O momento da veiculação da propaganda também levanta alertas. O município vive um período pré-eleitoral, e alguns vereadores já manifestaram publicamente a intenção de disputar cargos em instâncias superiores. O presidente da Câmara, Alexandre Guimarães, declarou em tribuna o desejo de concorrer a uma vaga de deputado estadual pelo PDT que tem como pré-candidato a govenador Requião Filho apoiado pelo PT. Já o vereador André Gabardo é apontado como possível candidato a deputado federal pelo partido Novo.
Mesmo sem citar nomes ou imagens de parlamentares, a ampla divulgação de uma campanha institucional positiva em ônibus do transporte coletivo pode gerar benefício político indireto, especialmente quando associada a futuros projetos eleitorais, o que reforça a necessidade de fiscalização rigorosa por parte do Legislativo e atenção dos órgãos de controle.
No fim, o episódio revela um problema estrutural: enquanto a Prefeitura investe em marketing institucional e a Câmara se mantém alinhada ao Executivo, a população segue enfrentando dificuldades concretas, como transporte caro, falta de integração com Curitiba e serviços públicos deficitários. Transparência não é conquista, é dever. Fiscalizar não é oposição, é obrigação institucional. Quando isso não ocorre, quem paga a conta é o cidadão.
Matéria: Marcopolo Pais




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