Campo Largo pode viver colapso na saúde: profissionais se rebelam contra mudança na jornada e preparam greve
Mudança imposta pela Secretaria de Saúde de Campo Largo na escala dos enfermeiros compromete a renda de centenas de profissionais, pode provocar greve e ainda gerar aumento de gastos públicos; sindicato é acusado de omissão e categoria denuncia abandono

Campo Largo pode estar prestes a enfrentar a maior crise de sua saúde pública nos últimos anos.
Uma decisão da Senhora Secretária Municipal de Saúde de alterar a jornada de trabalho dos enfermeiros da rede municipal de 12x36 para 12x60 horas provocou revolta entre os servidores, que denunciam perda de renda, falta de diálogo e omissão do sindicato. A medida, que afeta diretamente mais de 600 profissionais, poderá resultar em uma greve geral com impacto devastador no atendimento à população.
Atualmente, a escala 12x36 — 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso — permite que muitos enfermeiros e técnicos de enfermagem tenham dois vínculos empregatícios, prática comum no setor da saúde em todo o país. Essa possibilidade é essencial para garantir uma renda compatível com as necessidades familiares, especialmente diante dos baixos salários pagos pelo setor público.
Com a nova determinação, que impõe uma escala de 12 horas de trabalho por 60 horas de descanso (12x60), essa lógica será quebrada. Os profissionais não conseguirão mais manter dois empregos, o que poderá reduzir em até 50% a renda mensal de boa parte da categoria.
Renda comprometida, famílias prejudicadas
De acordo com relatos dos próprios servidores, a nova escala compromete não apenas a rotina profissional, mas o sustento de inúmeras famílias. “Essa mudança inviabiliza totalmente nosso segundo emprego. Muitos de nós trabalham na UPA 24hs e em outro hospital ou clínica no dia seguinte. Com 12x60, isso acabou. Estão tirando nosso direito de trabalhar e de manter nossas casas”, relatou uma enfermeira que preferiu não se identificar.
A Secretaria de Saúde deu um prazo de 180 dias para que os profissionais se “adequem”, mas segundo os servidores, essa adaptação é impossível. "Não se trata apenas de agenda. Estamos falando de sustento. Como reorganizar toda a vida financeira em seis meses se metade da renda vai desaparecer?", questiona outro profissional da saúde.
Omissão do sindicato e sentimento de abandono
Um dos pontos mais graves apontados pelos servidores é a suposta omissão do sindicato da categoria. Profissionais denunciam que procuraram o órgão representativo em busca de apoio, mas receberam como resposta o silêncio, representantes do sindicato inclusive saíram do grupo de WhatApp dos estatutários após serem confrontados “O sindicato simplesmente deu as costas para a gente. Está do lado do executivo municipal, não da categoria. Estamos sozinhos”, afirmou uma técnica de enfermagem.
Essa postura levanta sérias questões sobre a legitimidade da representação sindical. A Constituição Federal e a Lei nº 7.783/1989, que regulamenta o direito de greve, garantem aos trabalhadores o direito à negociação coletiva, e ao sindicato, a responsabilidade de liderar as lutas em defesa da categoria. A ausência de atuação sindical nesse caso agrava ainda mais o clima de insatisfação.
Greve já tem plano traçado e pode começar a qualquer momento
Diante da falta de diálogo e do impasse criado, mais de 300 profissionais da saúde de Campo Largo já se articulam para deflagrar greve nos próximos dias. Um plano de paralisação já está em fase final de organização. A categoria pretende manter o mínimo legal de 30% do efetivo em funcionamento, conforme determina a lei, mas alerta para o impacto drástico que a paralisação causará na rede pública de saúde.
Se a greve for confirmada, unidades como a UPA 24 horas e os postos de atendimento da rede básica terão redução imediata de serviços, com filas, sobrecarga nos atendimentos de urgência e paralisação de consultas e procedimentos eletivos.
Gastos públicos podem aumentar com a nova escala
Além do impacto negativo direto sobre os profissionais, a medida pode provocar o efeito contrário ao pretendido pela administração municipal. Para que a escala 12x60 funcione sem sobrecarregar o sistema, será necessária a contratação de ao menos 30% a mais de profissionais. Isso representará um aumento nos gastos públicos com folha de pagamento, gerando um impacto fiscal desnecessário e evitável.
Ou seja, a nova escala não apenas prejudica os trabalhadores, mas também onera o município, criando um cenário de prejuízo duplo. Enquanto o discurso oficial pode ser de "organização da carga horária", na prática, a decisão impõe custos sociais e financeiros elevados — e sem garantias de melhora na eficiência ou na qualidade dos serviços prestados.
Aspectos legais e constitucionais
A alteração da jornada de trabalho de forma unilateral também levanta questões legais. Segundo o entendimento consolidado nos tribunais, mudanças como essa devem respeitar os direitos adquiridos dos servidores públicos estatutários, conforme determina a Constituição Federal e, no âmbito local, a legislação específica do funcionalismo de Campo Largo.
A jurisprudência do STF já reconheceu que o vínculo estatutário garante estabilidade e proteção contra alterações abruptas nas condições de trabalho, principalmente quando estas resultam em perda remuneratória indireta. Caso a medida seja contestada judicialmente, há margem para questionamentos sobre sua legalidade.
Conclusão: uma decisão técnica, mas socialmente insustentável
A gestão da saúde pública exige sensibilidade, diálogo e responsabilidade com os trabalhadores e com a população. A tentativa da Senhora Secretária Municipal de Saúde de Campo Largo de impor uma nova jornada de trabalho sem negociação, sem estudos de impacto e sem escuta ativa da categoria revela uma gestão tecnocrática, fria e potencialmente desastrosa.
Ao invés de propor melhorias no sistema, a decisão desmonta a principal base de sustentação da força de trabalho da saúde local. Se a greve se confirmar, Campo Largo poderá assistir a um colapso nos atendimentos, aumento de custos públicos e deterioração da confiança entre servidores e gestão municipal.
O momento exige recuo, diálogo e responsabilidade. Sem isso, a saúde de Campo Largo entrará em colapso — não por falta de profissionais, mas por falta de gestão.
Até mesmo os diretores em cargos comissionados não concordam com a atitude autoritária da secretária e se juntam a classe para pedir a saída da senhora secretária do cargo.
Será que o prefeito terá a coragem de exonerar a secretária e salvar a Saúde de Campo Largo?
Matéria: Marcopolo Pais
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