Vereador vence competição nos Jogos dos Trabalhadores e levanta debate sobre representatividade
Junior Andreassa, vereador e empresário, conquista primeiro lugar na natação em evento dedicado ao Dia do Trabalhador e gera críticas sobre a participação de autoridades políticas em competições voltadas à classe trabalhadora

A realização dos Jogos dos Trabalhadores em Campo Largo, evento tradicional que celebra o Dia do Trabalhador com competições esportivas, premiações e integração entre categorias profissionais, acabou sendo marcada por uma polêmica que repercutiu entre participantes e moradores. Na modalidade de natação, o primeiro lugar foi conquistado por ninguém menos que o vereador e empresário Junior Andreassa.
A vitória, embora possivelmente dentro das regras da competição, gerou desconforto e críticas, sobretudo por parte dos trabalhadores que entendem que o evento deveria ser uma homenagem exclusiva à classe operária e assalariada — e não uma vitrine para figuras públicas e detentores de cargos eletivos.
A situação levanta uma questão central: quem, de fato, deve ser o protagonista em eventos que homenageiam os trabalhadores?
Segundo a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), trabalhador é toda pessoa física que presta serviços de natureza não eventual a um empregador, sob dependência e mediante salário. O trabalhador, portanto, é aquele que executa tarefas no cotidiano, geralmente em condições desiguais em relação ao patrão, enfrentando desafios como longas jornadas, baixos salários e poucas garantias.
Já o empresário é o detentor do capital, proprietário de empresa, e aquele que contrata mão de obra. Por sua vez, o vereador é um agente político, eleito para representar a população na Câmara Municipal, com salário fixo pago pelos cofres públicos, e que possui poder de legislar e fiscalizar os atos do Executivo municipal.
Dessa forma, a presença de um vereador, que também é empresário, como campeão de um torneio idealizado para valorizar o esforço cotidiano dos trabalhadores comuns, causa estranheza. O espaço que simbolicamente deveria ser ocupado por um trabalhador da base — como um operário, técnico, comerciário ou servidor público — foi cedido a uma figura com maior visibilidade, poder e privilégio social.
Para muitos participantes, o episódio simboliza o esvaziamento do real propósito dos Jogos dos Trabalhadores. “É desanimador. A gente se prepara, vem com vontade de competir, e vê que até aqui há espaço para quem já tem poder e destaque na sociedade. Fica a sensação de que tudo tem dono”, comentou um competidor que preferiu não se identificar.
A crítica gira em torno da representatividade. Em uma competição voltada para celebrar o trabalhador, a presença de agentes políticos pode parecer mais oportunista do que simbólica, reduzindo o espaço de reconhecimento para quem de fato constrói o país com suor e dedicação no dia a dia.
Além disso, há o risco de que episódios como esse desmotivem trabalhadores a participarem de futuras edições do evento, sentindo-se preteridos ou invisibilizados em um espaço que deveria ser feito para eles.
A conquista de Junior Andreassa na prova de natação pode não ser ilegal, mas levanta um debate ético e simbólico importante: os eventos voltados à celebração da classe trabalhadora devem priorizar aqueles que, na prática, representam essa classe — ou abrir espaço indistinto, inclusive para quem ocupa cargos de liderança e poder?
A resposta pode não ser unânime, mas a crítica já está posta. Para que eventos como os Jogos dos Trabalhadores cumpram seu papel social de valorização, é essencial que se mantenham fiéis à sua essência — a de enaltecer o trabalhador comum, aquele que, no anonimato, move a engrenagem da cidade e do país.
Matéria: Marcopolo Pais
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